DOCUMENTÁRIO - A ROTA DA INSEGURANÇA

OUÇA O DOCUMENTÁRIO ABAIXO:

Roteiro e Narração Márcio Walter Machado 
Edição de áudio Danúbio Trindade 

Se você é usuário do transporte público em Salvador (BA), já deve ter se sentido inseguro ao pegar ônibus. Não é de estranhar, afinal, segundo o Major Gabriel Neto, comandante da Operação Gêmeos, grupo especializado na ação contra crimes cometidos em ônibus, entre primeiro de janeiro e 30 de setembro de 2018 houve cerca de 1,500 ocorrências de assaltos a coletivos registradas na cidade. 

No entanto, apesar dos números serem alarmantes, devido a uma ostensiva campanha da PMBA, essas cifras refletem uma redução de 31.3% na incidência desse tipo de delito em comparação com o ano de 2017. 

Para isso foi necessária a integração de várias unidades da Polícia Militar. "Todo efetivo operacional da capital está envolvido na prática de prevenção e repressão a roubos em coletivo", diz o major Gabriel Neto, "tecnicamente com dados, convergência de policiamento e ações específicas, como as blitz". 

Outra importante contribuição para a redução de delitos em ônibus foi um estudo científico para a compreensão da prática de crimes no transporte público da capital baiana. "A Escola Politécnica com a dissertação de Daiane Bittecourt, os mapas de densidade e queda, análises multinível e multicritério fazendo o desdobramento das manchas criminais, nos ajudaram a enfrentar melhor esse problema", completa o major. 

Ainda assim, Salvador parece estar longe de solucionar a questão de uma vez por todas. Apesar de existirem "linhas mais impactadas", como nos contou o major Gabriel, especialmente nas avenidas mais extensas e horários específicos, nossa reportagem revela que os crimes em ônibus podem acontecer em qualquer lugar e a qualquer hora. 

O que dizem as vítimas

Elisângela Costa, auxiliar de cabeleireiro, sofreu um assalto violento entre a Estação Mussurunga e o Bairro da Paz. "Entraram quatro rapazes no ônibus, todos armados, saquearam a todos, nos aterrorizaram. Um deles colocou a arma na minha cabeça", relata. "Foi um dia horrível, eu chorei muito. Passei muito tempo com medo de pegar ônibus". 

A história da estudante Camila Fernandes, apesar de ser em local e horário diferentes, é semelhante. "Estávamos na Orla, por volta das 11 da manhã e, próximo ao nosso ponto, entrou um rapaz com uma faca mandando que a gente entregasse o celular a ele", diz. "Após isso, eu me sinto insegura demais. Nem pego o celular no ônibus". 

Qhele Jemima, profissional de Relações Públicas, conta o que mudou em sua rotina após ter sofrido assalto em ônibus: "eu entrei nessa lógica meio doida de andar com o celular antigo e o que eu realmente uso para, no caso de sofrer novo assalto, entregar o aparelho velho ao ladrão. O tamanho da bolsa também diminuiu, nunca mais carreguei bolsas grandes, e também fiquei mais desconfiada", complementa.

A sensação de insegurança é compartilhada por todos os nossos entrevistados (ouça o documentário no topo da página ou aqui).

Sequelas Psicológicas

Sofrer assalto, especialmente de forma violenta, pode deixar sequelas que duram por anos. Conforme a psicóloga Luciana Panzera, "quando acontece algo de forte impacto emocional, como assalto em transporte público, podemos ter 3 reações diferentes de defesa: lutamos, fugimos ou ficamos paralisados". Qualquer que seja a reação, no entanto, ela acontece sob forte descarga elétrica emocional, que poderá levar a vítima a desenvolver distúrbios de ansiedade, síndrome do pânico, pensamento acelerado, entre outras várias consequências. (saiba mais aqui)

Entretanto, complementa a psicóloga, "existe programação (neurolinguística) para a gente cuidar e resolver o problema mesmo das vítimas que ficaram traumatizadas por uma situação assim". A Programação Neurolinguística é uma técnica psicoterapêutica utilizada desde os anos 70 para, através do auto-conhecimento, resignificar as vivências subjetivas e ajudar as pessoas a terem uma vida mais plena (leia mais). 

O que diz a legislação

Segundo a advogada Andréa Paula Reis, "há um entendimento entre a legislação administrativa, que trata da responsabilidade do Estado, e do Código Civil, artigos 186 e 297, segundo os quais todos somos obrigados a reparar o dano que causamos a alguém por ato ilícito". Dessa forma, os usuários de transporte público que tenham sido vítimas de crimes ou se sintam lesados na qualidade de passageiros, podem pedir indenização.  Pois, "o serviço de transporte é um concessionário, por isso, ele tem o dever de indenizar o passageiro que sofreu o dano", explica a advogada. Os usuários de ônibus, assim, devem procurar a defensoria pública ou um advogado e entrar com uma ação pedindo ressarcimento pelo prejuízo sofrido. 

Entrevistas pelos estudantes de Jornalismo:
Brenda Viana
Fernanda Abreu 
Gabriela Lacerda
João Marcos Costa
Márcio Walter Machado
Sued Reis
Taís Viera 


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